A CURA PARA A REJEIÇÃO: VOLTANDO PARA CASA

Alex Uemura
6 min readSep 22, 2020
Photo by Steve Johnson on Unsplash

Você já esteve alguns dias fora de casa, e quando retornou teve aquela sensação: “Nada como a minha casa!”?

É a sensação de “voltar pra casa” depois de um tempo em viagem. Lá existem os seus problemas, as coisas que estão bagunçadas, mas ainda assim, é sua casa. Não há nada como esta sensação!

A “casa” representa a sensação de aconchego, de cuidado, de amor…. É a simbologia de um local de esperança que todo ser humano, consciente ou não, busca durante sua vida.

Pense na casa de sua infância… A rua, o local, o bairro, a feira, o comércio onde você cresceu… Ou o local onde você passou boa parte de suas férias por vários anos antes de se casar ou morar sozinho… Certamente, a sensação que lhe vem agora é a de saudosismo… Mas sendo sincero, este lugar era longe de ser perfeito!

Nesse saudosismo e nostalgia, somos todos semelhantes ao filho mais novo… Vivemos com “saudades de casa”…

Casa é onde, quando você tem que ir, eles têm de aceitar você” (Robert Frost).

O “filho pródigo” da parábola de Lucas 15 também sente “saudades de casa” em determinado momento e então, retorna em busca de um local de acolhimento e paz após a decepção com o mundo.

Lucas 15.17–18:

“Caindo em si, ele disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome! Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti”.

E não é somente o “filho pródigo” que busca este retorno ao lar, mas desde de Adão, toda a humanidade está em busca deste retorno.

A mensagem da Bíblia é que a raça humana consiste de um bando de exilados tentando voltar para casa” (Tim Keller).

Como encontrar a cura para o sentimento permanente de rejeição, de não-pertencimento, de busca por um “lar”?

1) PRECISAMOS COMPREENDER A RAIZ DE NOSSA REJEIÇÃO NESTE MUNDO

Porque coexistimos com este sentimento de desadequação neste mundo? Não somente os que não são cristãos, mas inclusive os cristãos vivem sob este sentimento e por isso, estão sempre em busca de identificações com grupos ou ideologias.

A razão da inadequação e do sentimento de rejeição está no Éden, no pecado original… Desde o Éden estamos em busca de um local assim… Desde que o ser humano foi expulso daquele local onde tinha plena satisfação e suprimento na presença de Deus. Desde então, o ser humano está em busca de seu local de satisfação, de modo contínuo… Entretanto, enquanto vivemos:

· As frustrações são inevitáveis;

· Estamos sempre inquietos;

· Sonhos e esperanças quase nunca são plenamente alcançados.

Fomos criados para habitarmos um local perfeito, com um corpo perfeito e com uma espiritualidade plena em relacionamento com o Criador. Entretanto, o pecado original afeta todo esse equilíbrio perfeito. O ser humano é “expulso” de sua terra original (o “Éden”) e desde então, vive longe do mundo ideal. E a queda também gerou desordens naturais em toda a criação. As consequências desta queda são: doenças, epidemias, desastres naturais, degradação da vida e a própria morte física.

Assim, não podemos descartar por completo a possibilidade de um “auto-engano”. Sempre será possível voltar para casa, mas ainda assim, continuar exilado. Isso porque a “casa” (ou o conceito de “lar”) não se trata de um local, mas de um estado de espírito, de uma convicção, de uma certeza de acolhimento e pertencimento.

Se não encontrarmos isso, continuaremos em busca de “falsos lares” que na prática, se limitarão apenas à eliminação de “inimigos” da paz conforme o contexto do indivíduo. Ou seja, é a ideia de que encontraremos um lar quando algum mal ou problema social for definitivamente eliminado.

No primeiro século, para os judeus, mesmo que eles estivessem vivendo em Israel (não estavam exilados), ainda assim se sentiam “longe de casa”. Para eles, este conceito de “lar” seria uma libertação política de Israel. Obviamente, esta tal libertação política não lhes seria suficiente para trazer plenitude aos corações. Em grande parte este foi o conflito de interesses para os ouvintes originais israelitas de Jesus.

Por isso, a raiz de nossa sentimento de inadequação e rejeição está no distanciamento original (e hoje natural) de cada um de nós da presença plena de Deus e da vivência de Seus propósitos na criação.

2) PRECISAMOS DE UMA LIBERTAÇÃO DA DEPENDÊNCIA DE APROVAÇÃO DESTE MUNDO

Seja através de uma atitude de autocomiseração ou da atitude de desdém sobre outros, as pessoas estão em busca de aprovação. O “bully” (aquele que faz o bullyng) e também a vítima do bullyng, ambos estão em busca de aceitação.

Uma postura que evidencia plena maturidade espiritual e emocional é a libertação da necessidade de aprovação dos outros a partir de uma segurança em quem somos diante de Deus.

O filho pródigo — assim como cada um de nós — estava em busca desta segurança no Pai. Mas tentou a encontrar na aprovação deste mundo.

O apóstolo Paulo, que outrora era bem visto por seus compatriotas judeus e fariseus, passou a se tornar rejeitado na comunidade judaica, e também em partes, pela própria Igreja do primeiro século (2 Coríntios 11.26).Entretanto, ele evidencia em suas cartas uma profunda maturidade espiritual diante de sua convicção de chamado.

Gálatas 1.10 (NVI):

“Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo”.

E como exemplo maior, temos o Senhor Jesus, quem evidenciou tamanha maturidade de forma plena:

João 5.41–42 (NVT):

“Sua aprovação não vale nada para mim, pois eu sei que o amor a Deus não está em vocês”.

Em muitos momentos, a pressão do mundo não estará na mesma direção do foco de Deus. Nem sempre os outros sabem exatamente qual é o seu caminho, uma vez que Deus é quem está na direção de nossos planos. Para nos mantermos firmes na Missão que Deus nos revela, é importante mantermos a prática da solitude em oração diante do Pai, pararmos tudo, deixarmos de ouvir as “vozes” e pressões do mundo e então, ouvirmos aquilo que Deus está nos falando.

Precisamos nos importar mais com que o Senhor nos fala do que com o aquilo que as inseguranças e projeções dos outros estão nos falando.

3) PRECISAMOS NOS APROPRIAR DA OBRA DAQUELE QUE MAIS FOI REJEITADO

Normalmente, repudiamos alguém que no fundo expressa algo de nós mesmos que não gostamos.Temos a tendência de rejeitar aqueles que expressam posturas e sentimentos que nós mesmos lutamos contra dentro de nós.

No primeiro século, para os judeus, a “expectativa messiânica” era algo real, tangível e presente na vida do povo. Quando surge Jesus, logo esta esperança é acesa de forma vibrante, e Ele começa a reunir uma grande população de seguidores.

Mas foi esse Messias tão aceito no início quem mais representou a ideia de exílio e de se estar longe de casa em toda a história da humanidade. Afinal, Cristo nunca foi desta terra, e seu lar jamais foi aqui. Ele se encarnou, se esvaziou, assumiu a forma de homem, se limitou e viveu de modo desconfortável, uma vez que sempre fora Deus todo-Poderoso.

Ele foi crucificado além das fronteiras de Jerusalém, foi rejeitado por seu próprio povo étnico, e na cruz, declarou estar abandonado: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mt 27.46).

Na versão “A Mensagem”, lemos a paráfrase do texto de Isaías 53.3–4 de forma linda:

“Ele foi desprezado e ignorado […] Mas o fato é que ele levou nossas doenças, nossas deformidades, tudo que há errado em nós. Pensamos que ele era culpado de tudo isso […] Mas foram nossos pecados que caíram sobre ele”.

A ideia é: olhamos para Jesus e vemos nele toda a nossa própria rejeição, nossos pecados, nossa rebeldia contra Deus. Por isso, Cristo se fez rejeitado a fim de assumir sobre si nossa rejeição e inadequação neste mundo.

O Evangelho nos traz esperança de vivermos o acolhimento e o pertencimento que tanto buscamos e desejamos enquanto vagamos nesta existência. Somos movidos por esta esperança, na certeza de que seremos supridos, ao sermos recebidos de “braços abertos” por um Pai que nos amou primeiro, e continua a nos amar incondicionalmente.

Lembremos biblicamente que:

1. Nossa rejeição está no nosso distanciamento inicial de Deus;

2. Libertar-se da aprovação dos outros é possível pela convicção sobre a voz de Deus para nós;

3. Em Cristo, Aquele quem mais foi rejeitado, somos aceitos e acolhidos pelo Pai.

Escrevo como mais um “acolhido” por Cristo,

Alex Uemura
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Alex Uemura

Discípulo de Cristo, Missiólogo, Pastor. Escrevo sobre princípios atemporais aplicáveis à realidade de nossos dias.